4.11.2018

Música para uma geração

Uma das minhas maiores paixões é, sem dúvidas, a música. É impressionante o quanto eu posso ser estimulado por ela. Seja na busca por inspiração para criar uma ilustração nova, para relaxar e dormir, para pedalar ou fazer atividades físicas, sempre existe uma playlist no meu spotify que combina perfeitamente com meu estado de espírito no momento.

Mas existe uma outra sensação que a música me passa e que, por ser tão agradável, me faz conhecer artistas novos só para senti-la de novo, é a nostalgia. O sentimento de voltar no tempo ao ouvir um determinado estilo musical é, por vezes, um alívio para o dia-a-dia repleto de responsabilidades e pressão por todos os lados. Numa vida adulta transbordada de frustrações, decepções e boletos, a adolescência, quem diria, parece uma época maravilhosa para se viver.


O estilo musical que mais marcou minha adolescência foi o pop punk. Alguns diriam - e eu concordaria, é claro - emo. Músicas pesadas com letras carregadas de sentimento sempre me fascinaram. Parecia que era a trilha sonora da minha vida de adolescente frustrado com minhas paixonites de infância que nunca me davam bola. Então eu me imaginava num filme de comédia americano em que tudo iria dar certo no final. 


A banda mais influente nessa minha fase, e que perdura até hoje, é o Blink-182. O hoje em dia já clássico grupo que compôs músicas sobre correr pelado, transar com cachorros e xingar a família. O mesmo grupo que passou dessa fase adolescente misógina e amadureceu e fez músicas mais maduras - a mais famosinha e que todo mundo conhece é I Miss You, do disco Untitled.






Muitas bandas dos anos 2000 acabaram se desfazendo ou trocando de integrantes - o próprio Blink fez isso, duas vezes - e o fim de canais como a MTV que davam espaço para a febre pop-punk/emo do começo do século fez com que essa onda perdesse destaque. O próprio boom do funk e o  renascimento do rap nacional forçou o gênero a voltar ao seu lugar de origem, no underground e no boca a boca entre fãs.

E é a partir desse cenário que o pop punk tem despontado novamente, através de bandas como The Wonder Years, Real Friends, State Champs, Turnover e Neck Deep. Formadas a partir de fãs de bandas que fizeram sucesso nos anos 2000, elas estão construindo sua própria história e angariado novos fãs, tanto das gerações mais novas como também das antigas.


Semana passada pude assistir ao vivo o Neck Deep aqui em São Paulo e, afirmo com convicção, esses garotos que tem a minha idade ou são mais novos que eu, merecem todo o sucesso que vem obtido ao longo dos anos. A banda é bem recente, foi formada em 2012 por influências do New Found Glory, Green Day e A Day to Remember (que aliás é composta por fãs do Blink-182) e já lançaram três álbuns, sendo o mais recente o The Peace and the Panic, de 2017.




O show foi bem enérgico e agitado, como todo bom show de hardocre. O público finalmente pôde cantar a plenos pulmões os maiores hits da banda, depois de vários pedidos via Twitter para que os ingleses viessem para o Brasil. Fiquei muito feliz de assistir ao vivo minhas músicas favoritas como Gold Steps, Parachutes e Motion Sickness, além de me emocionar com In Bloom e December (escrita em parceria com Mark Hoppus, do Blink-182).



Tudo isso para provar que música boa não tem idade e que, quando muitos saudosos afirmam "ah, no meu tempo era melhor", não passa de uma nostaliga e preconceito bobos. A geração millenial está sim fazendo música boa, carregada de atitude e emoção, assim como a galera dos anos 60, 70 e em diante. Música boa não tem geração.